Quem assiste a um documentário no Discovery Channel parece já ter assistido a todos. A mesma fórmula narrativa, o mesmo jeito de usar as entrevistas, até os mesmos enquadramentos e uso da luz fazem com que os documentários do canal sejam na maioria das vezes previsíveis, ainda que quase sempre eficientes e interessantes.
Não era de se estranhar que essa mesma abordagem padronizadora chegasse também a parte da produção de webdocumentários. Prova disso é Le Corps Retrouvé, lançamento recente do jornal francês Le Monde. O tema é a busca do homem moderno por “reencontrar” seu corpo por meio de exercícios e técnicas diversas, como a ioga.
Sua interface, sua estrutura narrativa e mesmo os enquadramentos são idênticos a dois webdocumentários lançados antes pelo jornal, Le Corps Incarcéré (os prisioneiros e sua relação com o corpo) e Le Corps Handicapé (a recuperação de pessoas com deficiência).
Alguém pode argumentar que, neste caso, a consistência de formato é parte da graça, já que os três webdocs constituem uma série, embora haja quase de um ano de intervalo entre cada episódio. É verdade. Mas é verdade também que a fórmula básica de “vídeo entremeado com fotos estáticas e narração over” está presente em muitos outros webdocs, não apenas nestes três.
Não há mal nenhum nisso. Os documentários da Discovery, com formato predefinido e rígido, podem muito bem conviver com os documentários experimentais pensados para o público de festivais. Mas é interessante notar que essa segmentação entre produto autoral e produto comercial, de consumo rápido, tão forte na TV, começa a acontecer também no mundo dos webdocs.
Le Corps Retrouvé
Produção e distribuição : Le Monde
Em francês