Estreou no dia 5 de novembro One Millionth Tower, webdocumentário bastante aguardado por aqueles que acompanham o desenvolvimento do gênero. Esta produção canadense era esperada, em primeiro lugar, porque se trata do segundo filme dentro do megaprojeto Highrise, que surgiu no ano passado com o premiado Out My Window e deve ter continuidade nos próximos anos. Mas era esperada, sobretudo, por conta dos avanços tecnológicos que carrega.
Em um cenário ainda dominado pelo Flash, One Millionth Tower é totalmente construído a partir de tecnologias de código aberto baseadas em HTML5. O ambiente 3D da interface principal roda sobre um engine webGL (Mr. Doob’s three.js 3D javascript), enquanto a biblioteca javascript Popcorn.js, da Mozilla, foi usada para marcar a sequência de vídeos e realizar associações semânticas com conteúdos disponíveis em outros sites da web.
Neste mundo híbrido de vídeo e informática, o desenvolvimento tecnológico deve ser olhado com atenção mesmo por aqueles que só pensam na arte cinematográfica e estão pouco interessados nos bits e bytes. Um novo software pode ter um poder transformador na arte do webdocumentário, assim como o avanço das câmeras de vídeo em alta definição fez progredir o cinema digital como um todo.
Na prática, One Millionth Tower consegue evoluir em uma série de quesitos. A integração on-line com outros sites, por exemplo, é extraordinária. Enquanto navegamos, podemos abrir uma pequena janela (sem abandonar a narrativa) para ver fotos expostas no Flickr, textos da Wikipedia ou atualizações em tempo real sobre o clima no local retratado pelo documentário.
Da mesma forma, conteúdos do Google Streetview sobre grandes edifícios de mais de 200 países são agregados ao webdocumentário. Do Brasil, pode-se conhecer um pouco sobre o Edifício Copan, projetado por Oscar Niemeyer, em São Paulo.
Com o Flash, esse tipo de integração com sites externos é bastante difícil, quando não impossível.
Mas, acima de tudo, as novas tecnologias abertas baseadas em HTML5 são bastante aguardadas pelo poder de unificar o desenvolvimento para as diversas plataformas, permitindo que um mesmo conteúdo seja visto em computadores de escritório, em tablets ou em telefones celulares.
Esta promessa ainda ficou por cumprir no caso deste webdocumentário. Quem quiser ver One Millionth Tower em um iPad, por exemplo, receberá uma versão bastante simplificada do projeto, basicamente composta por vídeos. A culpa, no entanto, é do navegador do próprio tablet, não atualizado para interpretar HTML5 adequadamente.
E quanto ao conteúdo? Bem, One Millionth Tower define-se como um projeto “hiperlocal” que promoveu e relata as discussões de arquitetos e moradores de um bairro de periferia de Toronto na tentativa de recuperar edifícios degradados. A interface 3D permite que o internauta navegue pelos espaços e, para cada um deles, veja os vídeos com as mudanças urbanísticas propostas. Quem preferir o caminho menos lúdico, pode acessar os mesmos conteúdos pelo menu.
Forte na interação do internauta com a interface, o webdoc deixou de lado a questão da participação do internauta, relegada a uns poucos e secundários espaços.
Somando tudo, pontos fortes e pontos fracos, One Millionth Tower é um marco. Trata-se de um verdadeiro menu de opções tecnológicas que com certeza outros realizadores saberão aproveitar em suas obras.
One Millionth Tower
Produção: National Film Board (Canadá)
Direção: Katerina Cizek
Distribuição: NFB
Em inglês. Disponível também com legendas em francês.