Desde setembro de 2009, o National Film Board of Canada (Escritório Nacional do Filme) disponibiliza na rede a série PIB – O Índice Humano da Crise Econômica Canadense. O projeto é um dos maiores trabalhos de webdocumentário já realizados, se propondo a documentar as consequências do cenário econômico nos habitantes do país.
Sob a direção da documentarista Hélène Choquette, uma enorme equipe distribuída pelo território canadense alimenta o site, em inglês e em francês, procurando retratar em vídeos as histórias das pessoas mais tocadas pela crise. A idéia inicial é a de que só é possível termos uma noção verdadeira da crise quando vemos o cotidiano sendo afetado: pessoas que perdem seus empregos, perdem confiança, precisam de dinheiro…
Assim, o webdoc revela casos como o de um operário desempregado do setor automotivo de Ontário, um administrador de hotel sem clientes há 10 anos na Colúmbia Britânica, as dificuldades vividas por jornalistas que perderam seus postos no mais importante jornal canadense ou os desafios na vida de um artista diante de um mercado em colapso. Ao todo, são 17 histórias contadas até o momento. Além disso, diversos ensaios fotográficos, agrupados por temas ou em um mapa, foram sendo realizados e disponibilizados no site.
PIB recebeu prêmios importantes, como o prêmio do público na categoria de webdocumentário do festival de WebTV de La Rochelle, comentado aqui em Webdocumentário, e o Prêmio Numix de excelência em produção multimídia do Québec.
Se o projeto encontra reconhecimento, por trás de sua produção está uma das mais importantes agencias públicas de cinema do mundo. A National Film Board já produziu e distribuiu mais de 13 mil produções, ganhando mais de 5 mil prêmios.
Fundada por John Grierson, um dos principais nomes da história do documentário, a agência que marcou época chega com muito fôlego no século 21. Além de documentários, produções alternativas e animações, a NFB apoia conteúdos multimídias e desde 2009 oferece na web a exibição gratuita de centenas de seus filmes.
Séries on-line – Se PIB e a National Film Board encontraram na web uma nova forma para a narrativa de seus documentários, e em particular para as séries documentais, também outros produtores apostam em trabalhos de longa duração como este.
CameraWar é uma aposta do cineasta independente Lech Kowalski para uma nova forma de fazer filmes. Durante um ano, o diretor disponibilizou um novo vídeo a cada semana. Outro projeto: Interview Project, ancorado pelo cineasta David Lynch, mostra um pouco do estilo de vida americano em 121 entrevistas com pessoas “normais”, realizadas ao “acaso” por seu filho Austin Lynch durante 10 semanas numa viagem que atravessou os Estados Unidos.
A escolha pelas séries como opção pelos webdocumentaristas pode atender a um duplo propósito. Por um lado, permite uma maior profundidade de abordagem. Por outro lado, os projetos de longo prazo permitem uma exposição maior do produto e, em consequência, têm potencialmente uma audiência maior. Com isso, cresce o potencial de geração de receita – seja para modelos de financiamento baseados em publicidade, como o dos portais jornalísticos, seja para projetos financiados por patrocínios culturais de instituições que buscam retorno de imagem pelo reconhecimento da audiência.
Com a fragmentação do vídeo e a liberdade do espectador para navegar pelo conteúdo, a linguagem se renova e novos horizontes são criados para a representação da realidade no campo do documentário.