Webdocs olímpicos contam histórias de vida e de superação

Olympic Bodies - The Guardian

Olympic Bodies - The Guardian

Se os jogos olímpicos de Pequim em 2008 marcaram a história pela transmissão em alta definição, os de Londres deverão entrar para os registros como as olimpíadas mais interativas e sociais até hoje.

O próprio Comitê Olímpico Internacional incentivou os atletas e o público a twitarem sobre o evento. Eles só não esperavam que as pessoas os obedecessem tanto. Apenas a cerimônia de abertura teve mais tweets do que toda a olimpíada de 2008. Após a quantidade expressiva de mensagens ter comprometido a rede de transmissão televisiva, o diretor de comunicações do COI pediu ao público que considerasse usar as redes para apenas assuntos mais urgentes.

Esse episódio se explica pelo enorme crescimento das redes sociais nos últimos anos. O Twitter pulou de 6 milhões de usuários em 2008 para 500 milhões. O Facebook foi de míseros 100 milhões para 900 milhões, segundo dados consolidados neste infográfico da agência Pappas.

Embora a maioria dos sites jornalísticos ou de cobertura do evento use vídeos e infográficos como elementos, poucos produtores de conteúdo perceberam a oportunidade de integrar esses recursos por meio da criação de webdocumentários.

Pode-se justificar essa presença discreta pela própria complexidade da plataforma dos webdocs, que demanda muito mais tempo para ser construída. Mas o caminho trilhado por aqueles que apostaram nesse formato mostra que, se não têm a velocidade e a “temperatura” da cobertura instantânea, os webdocs podem agregar muito em termos de profundidade e variedade de conteúdo – além de trazer um caráter mais humano e intimista ao conteúdo.

Veja abaixo alguns exemplos interessantes de webdocs que giram, direta ou indiretamente, em torno dos jogos olímpicos:

Des Années pour des Secondes (anos por segundos, em tradução livre), L’Equipe – O webdoc acompanhou o treinamento de 13 atletas franceses para as olimpíadas de Londres. A estrutura em si é extremamente simples, com vídeos individuais por atletas. O webdoc mostra um lado pouco visto sobre a dedicação desses atletas. Após assisti-lo, ver os atletas em ação nas olimpíadas é ainda mais impressionante.

O L’Equipe lançou também o webdoc Dream Team, sobre o time de basquete americano dos jogos olímpicos de 92.

London, etc, AFP – A agência escolheu a própria cidade de Londres como tema para seu webdoc. O formato se adéqua à ideia de fazer uma pequena apresentação geral de tudo, sem se aprofundar muito em nada. Ainda assim, o webdoc consegue informar sobre a capital inglesa, passando pela arquitetura, disparidade econômica, transporte, cultura, parques e diversidade étnica. Embora visualmente esteja mais próximo de uma apresentação elaborada de PowerPoint, o webdoc usa de diversos recursos (infográficos, vídeos, fotos) de uma maneira simples e intuitiva.

Olympic Bodies (corpos olímpicos, em tradução livre), The Guardian – Na corrida da interatividade, o The Guardian leva o ouro. A equipe de do web site do jornal tem buscado maneiras novas e divertidas de contar os mais diversos ângulos sobre o evento.

O vídeo interativo Olympic Bodies reúne 31 atletas britânicos em uma análise de seus corpos que deixaria Leni Riefenstahl com inveja. O espectador tem a opção de assistir ao vídeo inteiro ou ver pelo modo “interativo”. A primeira opção mostra em imagens belíssimas os corpos dos atletas, com narração em voice over deles e de estudiosos. A combinação dos depoimentos com as imagens transmite um relato do corpo como não apenas uma questão estética, mas como um símbolo inclusive de efemeridade.

Na opção interativa, esse aspecto se perde um pouco para o valor estético. Em uma plataforma simples, mas bonita, é possível passar pelos atletas, escutando os sons de sua modalidade esportiva. Ao clicar neles, é exibido um vídeo curto e mudo de cada um, com o depoimento escrito abaixo.

Além disso, a equipe produziu o excelente jogo retrô Could you be a medallist? (você poderia ser um medalhista?), que reúne dados sobre tempos olímpicos de atletas em diversas modalidades de diferentes gerações. Vale destacar também o mapa interativo da tocha olímpica e o tour virtual em 360º do parque olímpico.

Jeux Olympiques 2012, le Revers de la Médaille (jogos olímpicos 2012, o outro lado da medalha, em tradução livre), Médicos do Mundo – A ONG aproveitou os jogos olímpicos para chamar a atenção para a política imigratória inglesa. O webdoc retrata a situação precária em que vivem alguns imigrantes em Calais, no litoral norte da França, que, assim como os atletas, sonham em chegar à Inglaterra. Conta com três slide shows sonoros, mais alguns vídeos, que incluem entrevistas com membros da ONG comentando sobre as condições de vida dessas pessoas e o que pode ser feito para ajudá-las.