Por gerações, os sinos das igrejas brasileiras rompiam o silêncio das cidades e marcavam o compasso de um ritmo de vida moroso, muito diferente do atual. Eles cumpriam um papel agregador na comunidade e eram um meio de comunicação eficaz em uma sociedade iletrada. Antes do rádio, os diferentes sons emitidos pelos sinos anunciavam os nascimentos e as mortes aos habitantes locais. Badaladas vigorosas sinalizavam a morte de alguma personalidade importante.
O projeto Som dos Sinos, concebido e dirigido por Marcia Mansur e Marina Thomé, resgata a memória desse estilo de vida ameaçado pela modernidade. O ponto de partida são os sinos de igrejas em cidades históricas de Minas Gerais. O assunto poderia muito bem ser abordado de maneira convencional, em páginas estáticas de um livro. Mas nada melhor do que ouvir os sinos e interagir com eles. Por isso, as diretoras recorreram a diversas plataformas: um longa-metragem documental, um webdocumentário e um aplicativo para smartphones.
O segmento webdocumental do projeto recebeu o nome de O Universo das Torres. Uma introdução acompanha um sineiro, que caminha por dentro de uma igreja e sobe escadas acanhadas até chegar ao campanário. Logo, o enorme objeto metálico é movimentado e produz seu barulho grave característico. A partir desse ponto, é possível seguir por três caminhos. Ver os toques dos sinos, conhecer os sineiros ou descobrir mais sobre os sinos.
A primeira opção revela um relógio interativo. Clicar em alguns horários do dia dá acesso a vídeos de sinos sendo tocados em diferentes circunstâncias, como em festas e ao amanhecer. São vídeos curtos, mas com fotografia caprichada.
Ao clicar para conhecer os sineiros, pode-se assistir a entrevistas com os profissionais responsáveis por tirar as melodias dos sinos. Eles lamentam a dificuldade de encontrar novas pessoas dispostas a substitui-los e compartilham o papel simbólico dos sinos em suas vidas. Todas as entrevistas são feitas no campanário e dão uma dimensão do cotidiano dos sineiros. Alguns revelam as técnicas necessárias para tocar esses monumentais instrumentos – não basta agitá-los de maneira descoordenada.
O terceiro segmento oferece informações detalhadas sobre os sinos. Figuras e textos elucidam o processo tradicional de fabricação dos instrumentos e explicam o contexto histórico do ciclo aurífero que permitiu a construção das igrejas em Minas Gerais.
A interface é intuitiva, mas algumas características da navegação podem incomodar um pouco. Não é possível saltar os vídeos introdutórios, por exemplo, e a opção de voltar à tela inicial do webdocumentário nem sempre está disponível. Ao expandir os vídeos para o modo de tela cheia, eles são reiniciados. E nem sempre o conteúdo se adapta corretamente a monitores de diferentes resoluções e proporções. Isso resulta em alguns textos e gráficos cortados, dependendo do equipamento que se utiliza.
A experiência do webdocumentário é complementada por um aplicativo para Android e iOS. O app tem como foco a reprodução de áudios, sobretudo entrevistas mais aprofundadas com alguns dos personagens entrevistados no webdocumentário. Uma opção bacana é a possibilidade de utilizar o GPS do celular para encontrar as igrejas retratadas no projeto e traçar rotas até elas.
Direção: Marcia Mansur e Marina Thomé
Direção de Arte: Haydee Uekubo
Desenvolvimento: Dani Valentin
Edição de vídeos: Fernando Muñhoz