Mae Sot é um pequeno território independente no oeste da Tailândia, funcionando como uma espécie de fronteira natural com a República da União de Mianmar (nome oficial da Birmânia). A região é também conhecida como Little Burma (Pequena Birmânia) por ter uma representativa população de imigrantes birmaneses que se refugiam do governo militar nesse local. Essa situação atraiu recentemente a atenção de ONGs e instituições internacionais, que desenvolveram programas para atender às necessidades desses trabalhadores e suas famílias, construindo e apoiando as atividades de escolas, hospitais e centros de ajuda. Esse cotidiano de resistência e clandestinidade é o tema de Little Burma, novo webdocumentário do periódico francês Le Monde.
O webdocumentário pretende lançar um olhar sobre as bordas de resistência ao regime militar. E foi lançado logo após as eleições gerais ocorridas no dia 7 de novembro, as primeiras desde a anulação do pleito de 1990.
O projeto mostra como em Mae Sot, sobrevive uma Birmânia paralela, com anseios democráticos e esperanças pela liberdade. Se a região funciona praticamente graças à ajuda internacional, o webdocumentário cumpre bem a função de retratar diversas dessas instituições.
A narrativa é estruturada em um mapa, cabendo ao espectador clicar em diferentes entidades ou personagens representados e assim acessar a informações textuais sobre cada um. Seis vídeos estão relacionados a alguns desses personagens e instituições, abordando temas como prisioneiros políticos, saúde, educação, trabalho clandestino e acesso à informação para a população no exílio (tema, aliás, do premiado documentário VJ de Mianmar, indicado para o Oscar 2010 e vencedor do É Tudo Verdade de 2009).
O espectador navega assim por lugares como a clinica Mae Tao, uma das mais importantes instituições de Mae Sot, cuidando da saúde de milhões de pessoas que são obrigadas a atravessar a fronteira para receber tratamento adequado devido à baixa qualidade de serviço em Mianmar, e o Centro de Desenvolvimento da Infância, colégio que acolhe mais de 1.200 estudantes birmaneses que, apesar de sua situação irregular, recebem ensino com a mesma qualidade dos bons estabelecimentos tailandeses.
Os vídeos são montados utilizando diversas fontes, como fotografias, filmagens e depoimentos em áudio. Um recurso interessante é o uso recorrente de ilustrações, realizadas por Joel Alessandra, que muitas vezes recriam situações citadas nos depoimentos.
O uso de animações é um fenômeno crescente e marca novas formas de acesso e representação da realidade. A técnica permite a simulação de acontecimentos sem a presença de um dispositivo material (câmera). Enquanto documentário se apropria da tecnologia para criar novas representações do mundo histórico, o webdocumentário se mostra como um terreno bastante fértil para essas experimentações.
Little Burma
Produção: Inflammable
Distribuição: Le Monde
Em Francês